Brasil e Chile buscam cooperação em minerais críticos

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o líder chileno Gabriel Boric criticaram a atual guerra comercial desencadeada pelos EUA e também se comprometeram a fortalecer os laços entre as duas nações, incluindo iniciativas de cooperação na área de minerais essenciais.

Boric visitou o Brasil esta semana, assinando 13 acordos e memorandos em diversas áreas, incluindo justiça e segurança pública, defesa, ciência e tecnologia, cultura, pesca e aquicultura, agricultura, pecuária e inteligência artificial.

“Esse dia, para mim, é muito importante, não apenas pelos acordos e protocolos de intenções que foram assinados. Eu penso que essa reunião é importante por conta do momento político que o mundo vive. É apenas o começo de uma história, a nossa relação nunca mais será a mesma, porque nós temos a obrigação de fazer com que ela seja melhor, melhor e melhor”, declarou Lula em discurso.

Um dos principais temas abordados durante o encontro foi a necessidade de melhorar a infraestrutura regional.

Entre os projetos nessa área está a iniciativa de rotas de integração sul-americanas, com foco especial no Corredor Bioceânico de Capricórnio, que irá conectar portos brasileiros nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina aos portos chilenos de Iquique, Mejillones e Antofagasta.

A previsão é que a rota seja concluída no próximo ano, segundo o governo brasileiro.

Além dos anúncios oficiais, representantes de ambos os países iniciaram discussões sobre a criação de um grupo de trabalho para definir uma estratégia de longo prazo para o desenvolvimento de estruturas para expandir atividades envolvendo minerais críticos, como lítio, terras raras e níquel.

“A ideia de Brasil e Chile tentarem desenvolver iniciativas conjuntas para expandir a exploração e a produção de minerais críticos é extremamente oportuna, já que ambos os países possuem grandes reservas e os minerais críticos estão se tornando uma prioridade estratégica fundamental para as principais economias globais. Além do desenvolvimento conjunto desses minerais, uma parceria com o Chile também é importante para o Brasil porque cria uma rota comercial adicional via Oceano Pacífico”, disse à BNamericas André Pereira César, analista político da Hold Consultoria.

O comércio entre os dois países totalizou cerca de US$ 2,7 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O Brasil exportou US$ 1,56 bilhão e importou US$ 1,21 bilhão, resultando em um superávit comercial de US$ 350 milhões.

Entre os principais produtos exportados do Brasil para o Chile estão petróleo bruto, carne, veículos e tratores. O Brasil, por sua vez, importa do Chile principalmente derivados de cobre, salmão e vinho.

O encontro entre Lula e Boric ocorreu em meio a crescentes tensões comerciais, com tarifas impostas pelos EUA afetando países do mundo todo e representando uma grande ameaça ao comércio.

“Hoje, em um cenário de incerteza global, principalmente econômica, mas não se limitando a ela, é mais importante do que nunca reafirmar nossos laços e dizer, aqui na América do Sul, que somos nações amigas e continuaremos trabalhando juntos em defesa de princípios que nos importam: a democracia, o valor do multilateralismo e a importância do livre comércio, em benefício de nossos povos”, afirmou Boric em comunicado.

A aproximação dos líderes brasileiro e chileno também ocorre em um momento em que a América Latina é marcada por divisões políticas.

“Existe uma clara divisão ideológica na América Latina, o que dificulta a celebração de acordos amplos entre muitos países da região. Assim, dado o atual alinhamento entre os líderes de Brasil, Chile, Uruguai e Colômbia, enquanto Argentina, Peru e Equador parecem seguir em direção oposta, acordos individuais entre países fazem mais sentido”, acrescentou César.