Governo brasileiro aposta na COP30 mesmo diante de riscos ambientais e de infraestrutura

O governo Luiz Inácio Lula da Silva está apoiando fortemente a reunião da COP30 em Belém como uma oportunidade de posicionar o Brasil na vanguarda de uma agenda global ambientalmente amigável. No entanto, o movimento também envolve riscos significativos.

A conferência climática da ONU acontecerá de 10 a 21 de novembro. O governo espera que o evento atraia 150 delegações internacionais, incluindo chefes de Estado, com um público total superior a 50 mil pessoas.

“A realização da COP30 poderia colocar o Brasil em uma posição de destaque global em questões relacionadas ao meio ambiente e à transição energética, emergindo como um antagonista da agenda diferente que está sendo perseguida pela administração de Donald Trump nos Estados Unidos. No entanto, a COP30 também traz uma série de riscos para o Brasil”, disse à BNamericas André Pereira César, analista político da Hold Consultoria.

“Um dos principais riscos é o fato de que o evento será realizado em Belém, que, embora seja a capital de um estado localizado na emblemática região da Amazônia, não possui infraestrutura adequada para sediar um evento internacional tão significativo. Isto pode se transformar em um grande fracasso do ponto de vista logístico e organizacional, afetando a imagem do Brasil e do próprio Lula, que tem enfrentado uma rápida queda em sua aprovação”, acrescentou César.

O governo reconhece esses riscos e está investindo R$ 4,5 bilhões (US$ 790 mi) em vários projetos de infraestrutura para melhorar a logística da cidade e acomodar um grande público internacional. Além disso, o governo fechou um acordo com a concessionária que administra o aeroporto de Belém para antecipar um investimento de R$ 470 milhões para modernizar, até agosto, as instalações.

“Eu estou satisfeito com as coisas que eu vi por aqui. Não é fácil tomar uma decisão de fazer um evento da magnitude de uma COP no estado do Pará ou qualquer outro estado que não fosse São Paulo ou Rio de Janeiro. Eu saio daqui com a certeza de que nós vamos fazer a melhor COP já realizada em todas as edições”, declarou Lula durante visita recente à capital paraense para avaliar o andamento dos trabalhos.

“A quantidade de melhorias que estão sendo feitas aqui no estado vai ficar para o povo do Pará. O importante é que os governantes tratem de fazer com que as coisas aqui sejam bem utilizadas pela população”, complementou.

Além dos desafios de infraestrutura, Lula também enfrenta riscos ambientais, já que a Petrobras vem pressionando o Ibama para autorizar a exploração de petróleo na região da Foz do Amazonas. Ecologicamente sensível, a área é a joia da coroa da Margem Equatorial, considerada a principal esperança do Brasil para evitar riscos de suprimento de petróleo na próxima década. Esta bacia sedimentar está localizada na costa do estado do Amapá, que faz fronteira com o Pará e se estende para as águas da Guiana Francesa e do Suriname.

“Durante a COP30, que terá um público massivo de grupos ambientais, Lula será confrontado sobre seu apoio à exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Ele precisará criar uma narrativa bem pensada para convencer os ambientalistas de sua posição. Caso contrário, corre o risco de perder o apoio de uma base importante de eleitores dos partidos de esquerda, que são os ambientalistas”, ressaltou César.