ArcelorMittal reformula estratégia de investimentos para o Brasil

A ArcelorMittal, maior produtora de aço do Brasil e líder global no setor, ajustou sua estratégia de investimentos em meio a um período desafiador para as siderúrgicas.

Poucos dias após anunciar o plano de expansão da unidade de Tubarão, no Espírito Santo, a empresa decidiu cancelar o investimento previsto para a unidade de João Monlevade, em Minas Gerais.

“As siderúrgicas estão atualmente passando por uma grande revisão de seus negócios e estratégias de investimento, forçando-as a serem muito mais seletivas em suas decisões, pois o momento é desafiador e ainda bastante incerto”, disse à BNamericas Pedro Galdi, consultor especializado em mineração e metais.

Nos últimos anos, siderúrgicas que operam no Brasil têm demonstrado preocupações sobre a suposta concorrência desleal do aço importado da China, que aumentou suas exportações para vários países devido aos altos níveis de produção.

Já nos EUA sob Donald Trump, a indústria siderúrgica enfrenta tarifas mais altas. Os EUA são o principal mercado de exportação para produtores de aço no Brasil, respondendo por cerca de dois terços das exportações de aço do país.

“É possível que o governo Trump reverta essas tarifas em algum momento, ou pelo menos adote um sistema de cotas para exportações, o que tornaria a medida menos agressiva. No entanto, dado o cenário atual, vejo um risco crescente de que as siderúrgicas no Brasil mudem seus investimentos, tornando-se mais seletivas e, em alguns casos, até mesmo reduzindo ou cancelando investimentos”, acrescentou Galdi.

A ArcelorMittal anunciou recentemente planos de investir até R$ 4 bilhões (US$ 700 mi) em sua unidade de Tubarão para desenvolver uma nova linha de laminação e revestimento.

“O projeto da Unidade de Tubarão é mais do que um investimento; é um marco que reforça nosso compromisso com o futuro e com o desenvolvimento do Espírito Santo e do Brasil. Ele fortalecerá nossa presença em mercados de alto valor, como os setores automotivo, de eletrodomésticos e construção civil, ao mesmo tempo que aproxima nossa produção das demandas do consumidor final”, afirmou em nota Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal Aços Planos América Latina.

As etapas de engenharia e contratação estão programadas para começar no primeiro semestre de 2026, com as operações previstas para o primeiro semestre de 2029.

Por outro lado, a ArcelorMittal, “após avaliar as condições e oportunidades de mercado”, revisou seu plano estratégico para Brasil e cancelou o projeto de expansão da unidade de João Monlevade, em Minas Gerais. Segundo os resultados financeiros da empresa em 2023, o investimento em capital para a expansão de João Monlevade foi estimado em US$ 800 milhões, com conclusão inicialmente prevista para o segundo semestre de 2026.

“A revisão do plano para a Unidade João Monlevade não afeta os outros investimentos em curso no Brasil nem o atual patamar de operação e produção da usina”, informou a empresa em um comunicado separado.

“Importante destacar que o Brasil continua sendo uma das prioridades da ArcelorMittal tanto pelo potencial de aumento do consumo de aço no médio e longo prazo quanto pelo desempenho destacado da operação brasileira, considerada referência no Grupo”, complementou.

A ArcelorMittal confirmou que mantém seu volume de investimentos planejado para o Brasil – aproximadamente R$ 25 bilhões para 2022 a 2028 –, com foco principal no aumento da capacidade de produção, melhorias operacionais, diversificação de seu portfólio de produtos de alto valor agregado e energia renovável.

A empresa emprega aproximadamente 127 mil pessoas no mundo todo e cerca de 20 mil no Brasil.

Segundo Galdi, produtoras locais de aço, como CSN e Usiminas, são as mais expostas às tarifas impostas pelo governo americano devido ao volume de suas exportações para o mercado norte-americano.